domingo, 10 de abril de 2016

VIII - Últimas notícias sobre Yakov P. Ganzelevitch em Tomsk.


Um pente fino nas publicações de Tomsk da primeira década do sec. XX (disponíveis na Biblioteca Cientifica da Universidade Estadual de Tomsk (www.sun.tsu.ru) trouxe à tona registros mais consistentes sobre os últimos anos de Yakov em Tomsk. Estão ali informações que podem ter efetivamente motivado sua saída da Rússia com a intenção de iniciar um novo capítulo de sua vida em outro lugar. Para sua felicidade foram motivos que nada tiveram a ver com a guerra mundial e menos ainda com a revolução comunista de 1917.

Em 1906 o jornal Sibirskaya Jizn (Vida Siberiana) registra a presença de Yakov na cidade. Em uma nota da edição nº 136, de 28 de junho, se diz ter sido ele vítima de um furto, em sua casa da rua Efremovsk, nº 11. Algumas semanas depois ele anuncia para alugar o apartamento sito nesse endereço (ed, 148, de 13/07). 




Tudo indica que o imóvel não foi alugado pois, no ano seguinte, o mesmo endereço é mencionado em um anúncio em que procura contratar um padeiro (ed. 088 de 09/08/1907).



Teria sido nesse ano que Yakov participara de uma licitação promovida pela Ferrovia Transiberiana para fornecimento de madeira para calefação das estações e para substituição de dormentes da linha férrea. Ao que tudo indica esse serviço seria atendido pela serraria por ele construída em Yaya, já mencionada. Essa transação aparece comentada em artigo publicado no citado Vida Siberiana , edição nº 221, de 16/10/1908.


Por alguma razão que não se menciona nos textos, Yakov não efetuou o fornecimento contratado, sendo por isso, ao final de 1908, declarado inadimplente pela Ferrovia. 

Em dezembro de 1909  aparece o anúncio em que seu pai coloca a venda as instalações de Yaya. Trata-se da serraria a que se refere o artigo do Prof. Zinoviev mencionado na postagem anterior.


Antes que o ano termine aparece no Jornal do Governo de Tomsk (Tomskiye Guberniskiye Vedomosti), edição nº 97 de 30 de dezembro, um comunicado em que a Transiberiana apela para os órgãos judiciais e requer a declaração de falência de Yakov e a execução da caução por ele dada no contrato. 



Em 1911, mais uma vez representado por seu pai, são publicados vários anúncios oferecendo à venda sua casa comercial junto à estação de Izmorski, o armazem de cereais e outros ativos de Yakov.

Vida Siberiana,  14/01/1911

Vida Siberiana, 12/05/1911

Vida Siberiana, 21/08/1911

Em 1913 o Tribunal Distrital de Tomsk declara a falência de Yakov e convoca os credores para gerenciar o processo de falência. 

Jornal do Governo de Tomsk, 03/04/1913

Esse processo se estendeu até 1916 ocasião em que é convocada uma reunião dos credores para conclusão do processo. 

Jornal do Governo de Tomsk, 02/03/1916



sexta-feira, 25 de março de 2016

VII - Novas fontes ... e um dos círculos se fecha

As atividades de Yakov em Tomsk e nas cidades vizinhas, ao que tudo indica, deixaram marcas duradouras. Seu nome foi citado recentemente em uma publicação que faz referência a imigrantes judeus provenientes da Belarus e que se transferiram para a Sibéria. O texto lembra alguns comerciantes que se destacaram na região, especialmente sua presença em Izhmorsky. (“К 90-летию создания Института белорусской культуры”; E. V. Komleva, 2011. p.616).[1]  


Em contato com a autora, a Profa. Komleva nos afirmou ter feito as referências sobre Yakov baseando-se num texto de outro historiador, o Prof. Zinoviev, cujo teor teve a gentileza de reproduzir:


"ГАНЦЕЛЕВИЧ Яков Петрович – томский 2-й гильдии купец из могилевских мещан. Торговал хлебом и другими товарами на станции Ижморской Сибирской железной дороги. В 1909 арендовал у крестьян села Жарковского Томского уезда участок земли на 9 лет для постройки парового лесопильного завода, права на которые передал Пинхусу Янкелевичу Ганцелевичу. Тот, в свою очередь, уступил землю и сплавленный лес Прасковье Федоровне и Василию Маркеловичу Жоголевым. Завод с 11 марта 1911 стал основой для крупнейшего в Западной Сибири Яйского лесокомбината. – В. П. Зиновьев.
Источник: ГАТО. Ф.3. Оп. 41. Д. 1226.
Лит.: Зиновьев В.П. К истории поселка Яя // Проблемы урбанизации восточных регионов России в XIX – ХХ вв. Томск, 2007."

Tradução: GANZELEVICH Yakov Petrovich - comerciante da 2ª corporação de Tomsk, da burguesia de Mogilev. Comerciante de trigo e outros bens na estação Izhmorsky da estrada ferro Siberiana. Em 1909, arrendou terras dos camponeses da aldeia Zharkovskogo, Tomsk, por 9 anos, para a construção de uma serraria a vapor, transferindo esse direito a Pinkhus Yankelevich Ganzelevich. Este, por sua vez, transferiu-o a Praskovya Feodorovna e seu marido Basilio Markelovich Zhogolev. Em 11 de março de 1911 a fábrica tornou-se a base para a maior indústria da Sibéria Ocidental: Serraria Yaya. – V. P Zinoviev.


Fizemos então contato com o Prof. Zinoviev, um dos principais e mais antigos pesquisadores de história da Universidade de Tomsk , que prontamente respondeu enviando o artigo completo do qual a versão acima seria apenas um verbete para uma enciclopédia. Ele nos relatou resumidamente o que havia encontrado nos arquivos de Tomsk e no jornal Vida Siberiana. . 

 

Essas informações indicam:

- a origem Bielorussa (Mogilev) dos Ganzelevitch

- a referência ao comércio de trigo [ver a fotografia abaixo]

- a referência à sua casa comercial em Izhmorsky

- a organização de uma serraria em Yaya (próximo a Izhmorsky)

- a referência a Pinkhus Yankelevich Ganzelevitch


A anotação em russo no verso desta foto indica se tratar de um celeiro para trigo.
A versão francesa, contudo, diz tratar-se de um estábulo (ecurie)


É muito provável que Pinkhus seja o próprio pai de Yakov. Ao que se sabe o nome Pinkhus (ou Pinchas, ou ainda outras grafias similares) é a versão hebréia de Petr, ou Piotr, em russo. Da mesma forma o nome Yankel (que aparece no patronímico Yankelevich) tem também a versão russa como Yakov. Em resumo Pinkhus Yankelevich Ganzelevitch poderia ser escrito na forma Piotr Yakovlevich Ganzelevitch.[2] 

Além de ser o pai de Yakov é muito provável que fosse, pelo patronímico comum, o irmão de Leontii Yakolevitch Ganzelevitch, já referido, e suposto ancestral dos primos de Russia/Israel. E da mesma forma irmão dos também mencionados Lipa e Tikhon.


A confirmarem-se tais hipóteses pelo menos um dos círculos estaria fechado. Faltam-nos encontrar mais evidências sobre as outras ligações que povoaram as memórias de Rebecca envolvendo Praskovya e seus descendentes. E não menos importante, encontrar o paradeiro de Nicolai que não aparece citado em qualquer das publicações pesquisadas. 






[1] A administração da cidade de Izhmorsky, em breve resumo histórico sobre o local, também dá relevo às atividades comerciais de Yakov Ganzelevitch e incorporou em seu site uma foto do seu estabelecimento.
[2] Estas equivalências dos nomes hebreus x  russos nos foi sugerida pela profa. Komleva.

sexta-feira, 18 de março de 2016

VI – Antigos registros sobre os Ganzelevitch em Tomsk



Esgotadas as fontes familiares tentamos encontrar registros sobre os Ganzelevitch em algumas publicações antigas, de Tomsk, atualmente disponibilizadas na internet. Além de estarem publicadas em russo, e com o uso de alguns caracteres em desuso, a maioria desses textos não permitem o uso da ferramenta de busca de palavras. Assim mesmo foram encontradas algumas citações sobre os Ganzelevitch, a maioria mencionando Yakov e seu pai. A novidade é que aparece um terceiro Ganzelevitch mencionado nessas mesmas publicações: Leontii Yakovlevitch Ganzelevitch.

Uma dessas fontes é uma publicação do governo provincial de Tomsk[2] que relaciona os cidadãos habilitados para votar nas eleições para a Duma, em 1907, onde consta:





“1394 – Ganzelevitch, Yakov Petrovich, kvart. nalog. ” (note-se a grafia antiga; a expressão a seguir ao nome parece referir-se a imposto sobre propriedades, ou seja, que Yakov teria sido inscrito como eleitor por ter propriedades.)

Outra publicação da mesma época é o relatório financeiro da entidade religiosa judaica de Tomsk para o ano de 1907.[3]



Relatório da associação judaica de Tomsk, 1907 (pag. 32



Nesse documento estão citados como doadores de recursos para as ações sociais da comunidade os nomes de; “Ganzelevitch, L.” (p.20 e 32), “Ganzelevitch, P.” (p. 32), “Ganzelevitch” (p. 62). O primeiro parece se referir ao já mencionado Leontii e o segundo a Piotr. Essa fonte é mais um indicativo das origens judaicas dos Ganzelevitch.[4]

O único que volta a aparecer em outra publicação da época é Leontii, citado no jornal governamental em uma lista de pessoas indicadas para atuar como membros do júri no ano de 1912:

“138 – Ganzelevitch, Leontii Yakolevich....Baixa-Pochitanskaia...” (Pochitank é hoje uma pequena comunidade rural situada dez quilômetros ao norte de Izhmorsky).
                
Dos nomes citados nessas publicações dois são conhecidos: Yakov Petrovich e seu pai P(iotr) Ganzelevitch. O terceiro é Leontii Yakovlevich Ganzelevitch, que se supõe pertencer à mesma família, embora não se possa estabelecer com certeza sua relação, exceto a constatação de que Yakov e Leontii, devido aos diferentes patronímicos, não eram irmãos.

Chama a atenção, entretanto, o fato de que as referências a Piotr não mencionem, nem mesmo abreviadamente, o seu patronímico. Isso pode sugerir que ele também, como Raïda, não fosse russo.

As referências a Leontii podem sugerir ser ele o bisavô dos Ganzelevitch de Israel (Boris e Olga) cujos avós tinham o patronímico Leontievich.[5] Apesar da aparente confusão gerada pela reincidência do nome Yakov, fato que é muito comum em famílias judias, a conexão parece mais fácil de se identificar pelo lado de Boris, por envolverem apenas pessoas do sexo masculino:

Ø  Boris Yakolevitch Ganzelevitch é filho de
Ø  Yakov Ilicht Ganzelevitch, e seu avô se chamava
Ø  Ilya Leontievich Ganzelevitch, cujo pai, (e bisavô de Boris) seria Leontii ???evich Ganzelevitch, ou seja, muito provavelmente o mesmo Leontii Yakovlevitch Ganzelevitch referido nas citadas publicações de Tomsk.

Olga, por sua vez, é neta de Boris Leontievich Ganzelevitch, irmão de Ilya Leontievich Ganzelevitch, o avô de Boris Yakolevitch. Olga e Boris são portanto, primos segundos carnais, tendo em comum o mesmo bisavô.

Vale registrar também que Yakov Ilicht (pai de Boris) nasceu em 1912, um ano antes do nascimento de Wladimir Ganzelevitch Moore, em Tanger, o que sugere que seus respectivos pais (Ilya Leontievich e Yakov Petrovich) seriam da mesma geração. Poderiam ser primos caso seus respectivos pais, Leontii e Piotr, fossem irmãos.

Com base nestas informações e nas mencionadas suposições teríamos assim uma terceira via de conexão entre os Ganzelevitch “marroquinos” e os “russos”.[6]

Leontii, ao que tudo indica, teria ainda dois irmãos cujos nomes aparecem citados nas antigas publicações de Tomsk. Em "Tomskie Gubernskie" de 19/09/1912 (suplemento, p.3), constam os nomes de:
Lipa Yakovlev Ganzelevitch e Tikhon Yankelev Ganzelevitch. 


O curioso é a variação nos patronímicos: Lipa é Yakovlev (e não Yakovlevich como Leontii); e Tikhon tem o patronímico a partir da variante hebréia do nome de seu pai (Yankel em vez de Yakov), resultando em Yankelev.






 

 

 







[1] As tentativas feitas por Boris e Olga junto aos arquivos russos têm resultado até aqui improdutivas.
[2] томские губернские ведомости. (Gazeta Provincial de Tomsk)
[3] Acessível em elib.tomsk.ru/purl/1-6403/
[4] Em um relatório similar da mesma instituição, porém relativo ao ano de 1911, os Ganzelevitch não são mais citados o que pode indicar terem deixado Tomsk. [elib.tomsk.ru/purl/1-6404/]
[5] Olga e Boris haviam confirmado até então o nome de seus avôs.
[6] Outros Ganzelevitch foram identificados na Rússia, notadamente na região de Voronezh. Segundo Boris, que teria feito contato com eles, seriam de outro ramo mais distante da família, ao que parece originários da Polônia. 

sexta-feira, 11 de março de 2016

V – Em busca das conexões familiares

Na foto da postagem anterior que mostra o que parece ser uma reunião familiar dos Ganzelevitch em Tomsk, destaca-se o cartaz sobre o telhado da casa. Foi nesse texto em cirílico que identificamos, na última linha, a palavra Ganzelevitch [Ганцелевич]. Essa foi a nossa “pedra de Roseta”, a chave com a qual passamos a varrer a internet em busca de algum outro Ganzelevitch no planeta.


"COMÉRCIO
MANUFATURAS E MANTIMENTOS
BENS
GANZELEVITCH"

Foi assim possível identificar e fazer os primeiros contatos com o fotógrafo Boris Yakovlevich Ganzelevitch e, por seu intermédio, com sua prima Olga Yakovlevna Borisova.[1] Embora nascidos na Rússia, eles vivem com suas famílias em Israel.

As informações e fotografias compartilhadas já nos primeiros contatos trouxeram logo os primeiros sinais de existência de parentesco com a família de Yakov. Haviam nascido em Kemerovo, uma província ao sul de Tomsk, e diziam ter visto, nos acervos de suas famílias, algumas das fotos antigas iguais às  que encontramos no acervo de Yakov. Tais fotos estimularam especialmente as memórias da mãe de Olga, Rebeca, então com 88 anos de idade.[2]  

Ela afirmava que a criança que aparece vestida de branco em uma das fotos de Tomsk (na qual não consta qualquer anotação) era Sarah Yakovlevna, sua tia, nascida em 1900, na cidade de Achinsk, e que era irmã de sua mãe, chamada Leah Yakovlevna, esta nascida em 1905. Dizia ainda que ambas eram filhas de Praskovia Petrovna. Dizia também que Praskovia tinha uma irmã chamada Rebecca Petrovna e um irmão de nome Kuzma Petrovich. E que os três eram filhos de Raja e Piotr (ou Pinchas) Ganzelevitch.



Foto atribuída a Sarah Yakovlevna, Tomsk.

Seria esse Piotr o pai de Yakov? E “Raja” o nome de sua mãe que seria traduzido pelos franceses para “Raïda” como vimos no passaporte de Yakov? E não seria “Kuzma” o próprio Yakov, o filho que viajou para a América e nunca mais voltou?

A reforçar essa linha de hipótese vale destacar a semelhança entre as duas fotos atribuídas a Praskovia: uma do acervo de Olga/Rebeca, outra do acervo de Yakov.



Duas fotos atribuídas a Praskovia: à esquerda a avó de Rebeca; à direita a irmã de Yakov.


Rebeca considerava, entretanto, a possibilidade de que Praskovia seria a esposa de Yakov, de quem se separara. E que Sarah e Leah seriam, portanto, suas filhas, ou seja, meio-irmãs dos Ganzelevitch do Marrocos. Essa possibilidade, entretanto, levanta muitas outras indagações, a começar pela ausência da foto da outra filha, Leah, no acervo de Yakov.



Leah Yakovlevna. Foto do acervo de Olga Borisova.

De qualquer forma, a notória semelhança entre as fotos de Praskóvia, como acima mostramos, seria uma forte evidência do alegado parentesco entre os descendentes de Praskovia e os de Yakov.

Lamentavelmente, nem Boris, nem Olga mantinham em Israel qualquer outro registro que comprovasse efetivamente o possível parentesco. Nem os apelos que ambos fizeram pela internet nos fóruns de famílias de Tomsk e junto aos arquivos públicos russos trouxeram qualquer fato novo nesse sentido. Restou-nos, assim, voltar a pesquisar pela internet, apesar das dificuldades impostas pela utilização do cirílico e os tradutores online. Algumas novidades já começam a aparecer, como se verá na próxima postagem.






[1] Apesar do patronímico comum não são irmãos. A utilização de certos nomes próprios é tradicional em famílias judaicas, razão pela qual será preciso, por vezes, esclarecer qual deles está se mencionando.
[2] Rebeca faleceu em 2013, aos 90 anos de idade.

sexta-feira, 4 de março de 2016

IV - Os Ganzelevitch que ficaram na Rússia

Entre os documentos que conhecemos deixados por Yakov não se encontraram cartas que indicassem laços de família mais amplos. Talvez porque as chances dessas cartas serem preservadas seriam muito poucas uma vez que nenhum dos filhos aprendeu russo. Apenas as velhas fotos que ele trouxe de Tomsk e que Nádia preservou sugerem a existência de parentes. Contudo, raras são as fotos que contém identificações precisas das pessoas ali retratadas. Por esse motivo, a Sra. de Mazières dependia quase que exclusivamente da memória de Nádia sobre os relatos verbais de seu pai para poder referir-se a essas fotos. 

Na maioria dos casos em que se encontrou uma anotação em francês, sua autoria é, portanto, da Sra. de Mazières. Apenas em uma das fotos se vê uma indicação em francês que pode ser atribuída à própria Nádia. É justamente a que indica a irmã de Yakov, Praskovia. A foto de seu irmão Nicolai está indicada por letra da Sra. de Mazières. Ela, entretanto, não faz qualquer referência a esses irmãos na biografia que escreveu sobre Yakov.


Prascóvia Petrovna e Nicolai Petrovich, irmãos de Yakov.




Anotações no verso da foto de Prascóvia.
A inscrição em russo, a lápis, revela: "1909 ano, Maio, 3. Em Tomsk"
Em francês Nádia sobrepôs: 1904 - Paraskovia soeur papa"




Anotações no verso da foto atribuída a Nicolai:
na inscrição em russo, à lápis, consegue-se identificar a referência ao
ano de 1906, mas não o significado da parte textual.

Uma das raras fotos de família teria sido feita em 1912, em Montreaux, na Suíça e já a haviamos apresentado na postagem anterior. Essa foto não contém nenhuma anotação, conservando apenas a identificação do fotógrafo. Representa Yakov (à direita), ao lado de quem pensamos sejam seu irmão e seu pai. 





Foto dos Ganzelevitch em Montreaux, Suíça, em 1912.


Uma outra foto, de data desconhecida, mas certamente anterior a 1912, representa o que parece ser a totalidade da família Ganzelevitch de Tomsk. Lamentavelmente ela não apresenta qualquer indicação de quem sejam essas pessoas, embora possamos identificar os pais de Yakov (sentados, à direita) e seu irmão, em pé. É possível que o outro homem ao lado de Nicolai seja o próprio Yakov, embora com uma aparência diferente das outras imagens conhecidas pelo corte da barba. 


A família Ganzelevitch, de Tomsk.

Em outra foto que a Sra. de Mazières sugere a presença do pai de Yakov ela é contrariada pelo que ali está anotado. O texto em russo descreve a presença de Sevostayan Eosipovich Granat e a jovem Tesi Malinovskaya, ao lado de Yakov. Diz ainda ter sido feita na cidade de Mariinski, em 9 de janeiro de 1907.





Savostayan Granat, Tesi Malinovskaya e Yakov Ganzelevitch, 1907

Ainda consta do acervo a foto de uma menina, feita em Tomsk, sem data e sem qualquer nota que identifique a retratada.



Menina não identificada, Tomsk.


Curiosamente, foi através dessa enigmática foto que surgiu uma outra versão sobre os motivos que teriam levado Yakov a deixar a Rússia. E que essa menina seria o provável elo de ligação entre os Ganzelevitch de Tanger (e seus descendentes) e os Ganzelevitch de Israel.



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

III) A questão dos nomes russos e da possível origem não russa dos Ganzelevitch.


Em um passaporte emitido na França, em 1921, Yakov Ganzelevitch consta ser filho de Pierre (Piotr) e de Raïda Kusil, falecidos.


Passaporte expedido em Paris em 1921.


Esses dados estão evidentemente incompletos e dificultam a identificação de sua ascendência familiar. A razão para isso é que na Rússia os nomes das pessoas são formados geralmente por três componentes: o primeiro é o prenome, como Yakov, Piotr, Boris, etc; o segundo é o patronímico, ou seja, o nome próprio do pai acrescido da desinência “ovich” ou “evich” no caso dos homens e “ovna” ou “evna” no caso das mulheres; o terceiro componente é sempre o nome de família, no caso, Ganzelevitch, que vem dado sempre pela família do pai. Esse nome de família é usado pelas mulheres até seu casamento, quando então o substituem pelo nome de família do marido.

Nenhum dos nomes informados nesse documento contém os patronímicos; nem mesmo o do próprio Yakov. Seu nome completo, segundo a forma russa, consta, entretanto em uma autorização para viajar para a França e Suíça, obtida em Tanger no ano anterior (1920).

Detalhe da autorização emitida pela representação do governo provisório russo, em Tanger, em nome de Yakov Petrovich Ganzelevitch

A perda de informação mais relevante, contudo, é a ausência do patronímico no nome de seu pai impedindo que se identifique o nome do avô de Yakov.[1]

No nome de sua mãe, além de faltar o patronímico consta o que se supõe ser o nome de família de solteira. Como seria improvável que Yakov se enganasse ao fornecer o nome da mãe para as autoridades francesas, parece razoável supor que ela tivesse outra origem que não russa.[2]  Na verdade, nem Raïda nem Kusil parecem ser nomes russos.[3]

Fotos atribuídas aos pais de Yakov

Essa hipótese parece encontrar respaldo em um estudo recente sobre o papel de empresários na região de Tomsk, nos séculos XIX e XX, período que antecede a instauração do regime soviético e que considera Yakov como proveniente da província de Mogilev, na Bielorússia.[4]

Entre os documentos que conhecemos deixados por Yakov não se encontraram cartas que indicassem laços de família mais amplos. Mesmo porque as chances de tais cartas serem preservadas seriam muito poucas uma vez que nenhum dos filhos aprendeu russo. Nem mesmo as notas feitas em russo no verso das fotografias trazidas da Rússia tinham versão francesa. Isso significa que os assuntos e as pessoas ali retratadas só poderiam ser identificados mais tarde com base na memória dos eventuais relatos verbais de Yakov. 


Na maioria das que se encontrou nessas fotos uma anotação em francês, sua autoria é da Sra. de Mazières, a partir do que lhe teria contado Nádia ou, talvez, por sua própria interpretação. Apenas em uma das fotos encontramos uma anotação que pode ser atribuída à própria Nádia. É justamente a que indica a irmã de Yakov, Praskovia. A foto de seu irmão Nicolai está indicada por letra da Sra. de Mazières.[5]

Prascóvia Petrovna e Nicolai Petrovich, irmãos de Yakov.



Anotações no verso da foto de Prascóvia.
A inscrição em russo, a lápis, revela: "1909 ano, Maio, 3. Em Tomsk"
Em francês Nádia sobrepôs: 1904 - Paraskovia soeur papa"



Anotações no versa da foto atribuída a Nicolai.
Na inscrição em russo, à lápis, consegue-se identificar a referência ao
ano de 1906, mas não o significado da parte textual.


Uma das raras fotos de família teria sido feita em 1912, em Montreux, na Suíça e já a haviamos apresentado na postagem anterior. Essa foto não contém nenhuma anotação, conservando apenas a identificação do fotógrafo. Representa Yakov (à direita), ao lado de quem pensamos sejam seu irmão e seu pai. 

Foto dos Ganzelevitch em Montreaux, Suíça, em 1912.










[1] Não se encontrou qualquer outro documento do acervo de Yakov que esclareça esses pontos. No registro de casamento de Yakov, feito em Gibraltar a 20 de abril de 1913, obtido por Nadine Ganzelevitch em 2015 na St. Andrew’s Presbyterian Church, as referências ao pai mencionam apenas “Pietro Ganzelevitch, negociante”.[1]  Tampouco os registros de batismo dos filhos Wladimir e Nadiejna citam os nomes dos avós.[2] Consta no verso da foto acima o nome “Raissa Kapilevitch” cuja origem é desconhecida. Essa anotação foi certamente feita pela Sra. Pauline de Maziéres.  Vale lembrar que nessa época Nádia já não dispunha dos documentos antigos de seu pai, cedidos antes ao seu sobrinho Wladimir.[3] Em uma extensa lista de pessoas que viveram em Tomsk no final do século XIX e início do século XX não se encontrou o nome Kusil e tampouco Kapilevitch. (ver em http://naytisvoih.ru/).[4] Voltaremos a este tema em uma próxima postagem.[5] A foto de Praskovia contém uma anotação em russo, onde se lê: “1904 – maio – 3; em Tomsk”; também consta, em francês: “Paraskovia, soeur papa”, feita provavelmente por Nádia. A foto atribuída ao irmão tem no verso uma nota feita pela autora de “Russes au Maroc” identificando o retratado como sendo “Nicola Petrovitch Ganzelevitch”, além de uma anotação em russo, parcialmente legível, onde consta “ano de 1906”. Entretanto, elas não faz qualquer referência aos dois em seu livro.[6] Provavelmente o alemão Rudolphe Schlemmer (1878-1972), que teria aberto seu estúdio em 1910.