Em um passaporte emitido na
França, em 1921, Yakov Ganzelevitch consta ser filho de Pierre (Piotr) e de Raïda Kusil,
falecidos.
Passaporte expedido em Paris em 1921. |
Esses dados estão
evidentemente incompletos e dificultam a identificação de sua ascendência
familiar. A razão para isso é que na Rússia os nomes das pessoas são formados
geralmente por três componentes: o primeiro é o prenome, como Yakov, Piotr,
Boris, etc; o segundo é o patronímico, ou seja, o nome próprio do pai acrescido
da desinência “ovich” ou “evich” no caso dos homens e “ovna” ou “evna” no caso
das mulheres; o terceiro componente é sempre o nome de família, no caso,
Ganzelevitch, que vem dado sempre pela família do pai. Esse nome de família é
usado pelas mulheres até seu casamento, quando então o substituem pelo nome de
família do marido.
Nenhum dos nomes informados nesse documento contém os patronímicos; nem mesmo o do próprio Yakov. Seu nome completo, segundo a forma russa, consta, entretanto em uma autorização para viajar para a França e Suíça, obtida em Tanger no ano anterior (1920).
Detalhe da autorização emitida pela representação do governo provisório russo, em Tanger, em nome de Yakov Petrovich Ganzelevitch |
A perda de informação mais
relevante, contudo, é a ausência do patronímico no nome de seu pai impedindo que
se identifique o nome do avô de Yakov.[1]
No nome de sua mãe, além de
faltar o patronímico consta o que se supõe ser o nome de família de solteira.
Como seria improvável que Yakov se enganasse ao fornecer o nome da mãe para as
autoridades francesas, parece razoável supor que ela tivesse outra origem que
não russa.[2] Na verdade, nem Raïda nem Kusil parecem ser
nomes russos.[3]
Fotos atribuídas aos pais de Yakov |
Essa hipótese parece encontrar
respaldo em um estudo recente sobre o papel de empresários na região de Tomsk,
nos séculos XIX e XX, período que antecede a instauração do regime soviético e
que considera Yakov como proveniente da província de Mogilev, na
Bielorússia.[4]
Entre os documentos que conhecemos deixados por Yakov não se encontraram cartas que indicassem laços de família mais amplos. Mesmo porque as chances de tais cartas serem preservadas seriam muito poucas uma vez que nenhum dos filhos aprendeu russo. Nem mesmo as notas feitas em russo no verso das fotografias trazidas da Rússia tinham versão francesa. Isso significa que os assuntos e as pessoas ali retratadas só poderiam ser identificados mais tarde com base na memória dos eventuais relatos verbais de Yakov.
Na maioria das que se encontrou nessas fotos uma anotação em francês, sua autoria é da Sra. de Mazières, a partir do que lhe teria contado Nádia ou, talvez, por sua própria interpretação. Apenas em uma das fotos encontramos uma anotação que pode ser atribuída à própria Nádia. É justamente a que indica a irmã de Yakov, Praskovia. A foto de seu irmão Nicolai está indicada por letra da Sra. de Mazières.[5]
Prascóvia Petrovna e Nicolai Petrovich, irmãos de Yakov. |
Anotações no verso da foto de Prascóvia. A inscrição em russo, a lápis, revela: "1909 ano, Maio, 3. Em Tomsk" Em francês Nádia sobrepôs: 1904 - Paraskovia soeur papa" |
Anotações no versa da foto atribuída a Nicolai. Na inscrição em russo, à lápis, consegue-se identificar a referência ao ano de 1906, mas não o significado da parte textual. |
Uma das raras fotos de família
teria sido feita em 1912, em Montreux, na Suíça e já a haviamos apresentado na postagem anterior. Essa foto não contém nenhuma
anotação, conservando apenas a identificação do fotógrafo. Representa Yakov (à direita), ao lado de quem pensamos sejam seu irmão e seu pai.
Foto dos Ganzelevitch em Montreaux, Suíça, em 1912. |
[1] Não se encontrou qualquer outro documento do acervo
de Yakov que esclareça esses pontos. No registro de casamento de Yakov, feito
em Gibraltar a 20 de abril de 1913, obtido por Nadine Ganzelevitch em 2015 na
St. Andrew’s Presbyterian Church, as referências ao pai mencionam apenas
“Pietro Ganzelevitch, negociante”.[1] Tampouco os registros de batismo dos filhos
Wladimir e Nadiejna citam os nomes dos avós.[2]
Consta no verso da foto acima o nome “Raissa
Kapilevitch” cuja origem é desconhecida. Essa anotação foi certamente feita
pela Sra. Pauline de Maziéres. Vale
lembrar que nessa época Nádia já não dispunha dos documentos antigos de seu
pai, cedidos antes ao seu sobrinho Wladimir.[3]
Em uma extensa lista de pessoas que viveram em Tomsk no final do século XIX e
início do século XX não se encontrou o nome Kusil e tampouco Kapilevitch. (ver
em http://naytisvoih.ru/).[4]
Voltaremos a este tema em uma próxima postagem.[5]
A foto de Praskovia contém uma anotação em russo, onde se lê: “1904 – maio – 3;
em Tomsk”; também consta, em francês: “Paraskovia, soeur papa”, feita
provavelmente por Nádia. A foto atribuída ao irmão tem no verso uma nota feita
pela autora de “Russes au Maroc” identificando o retratado como sendo “Nicola
Petrovitch Ganzelevitch”, além de uma anotação em russo, parcialmente legível,
onde consta “ano de 1906”. Entretanto, elas não faz qualquer referência aos
dois em seu livro.[6]
Provavelmente o alemão Rudolphe Schlemmer (1878-1972), que teria aberto seu
estúdio em 1910.
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